Disciplina Positiva

    Nesta postagem, vou abordar um tema que tem levado famílias e educadores a refletirem sobre a educação de seus filhos e alunos.
A Disciplina Positiva abrange uma série de ferramentas já estudadas e utilizadas por muitos profissionais na área da educação e dentro das estruturas familiares, ferramentas estas, que foram sintetizadas e nomeadas de Disciplina Positiva, pela Dr. Jane Nelsen, através das suas próprias experiências e estudos, a respeito de qual seria a melhor maneira para criar seus filhos.
Vamos então, começar a transcorrer este assunto tão rico e ao mesmo tempo polêmico, ainda para muitas famílias.

Antes de entrarmos nos preceitos da Disciplina Positiva, gostaria de voltar um pouco nos modelos educacionais que antecedem a nossa geração, e que de certa forma, ainda pairam sob muitas estruturas familiares.
Estamos falando do modelo verticalizado de educação, que é estruturado pela hierarquia, ou seja, a distribuição de obediência e poderes com subordinação sucessiva de um membro a outro. 

    O primeiro ponto importante da Disciplina Positiva, diz respeito a horizontalidade, modelo no qual as estruturas familiares, escolares, organizacionais e sociais, se constroem através do respeito mútuo e da igualdade, onde cada um tem a sua opinião e ela precisa ser levada em consideração. Neste modelo não há espaço para a posição de "eu mando e você obedece".
Percebemos que uma grande preocupação das famílias e educadores, está ligada ao fato de serem permissivos ou autoritários demais. Muitas famílias vêm de um modelo muito autoritário, fazendo com que se dividam em dois grandes grupos: primeiro, aqueles que acabam reproduzindo esse autoritarismo, justamente por não saberem fazer diferente, e segundo, aqueles que abalados pela educação autoritária que receberam, acabam se tornando permissivos demais. 
Quando fazemos uso do autoritarismo, estamos atendendo a uma necessidade nossa "eu quero assim", já na permissividade, estamos atendendo só a necessidade da criança "ela quer assim", a partir dai, podemos perceber porquê precisamos encontrar um equilíbrio.

    Na DP vamos conhecer várias ferramentas que preconizam o equilíbrio dos nossos atos e intervenções, e que é possível ser firme e gentil ao mesmo tempo.
Uma delas, diz respeito a diferença de encorajar e elogiar. Muitas pessoas não fazem distinção entre essas duas ações, porém, elas são fundamentais para a construção do "EU" da criança.
Elogiar pode parecer maravilhoso momentaneamente, mas a longo prazo, o elogio pode ser prejudicial para a criança. Muitas críticas surgem quando falamos esta frase.
Vamos lá, não estamos dizendo que é proibido elogiar, apenas que precisamos ter uma visão mais adiante de nossos atos, na educação de nossos filhos e alunos. O elogio é uma condição que vem de fora para dentro, ou seja, a gente constrói a ideia na criança, de que ela precisa desse reforço externo para tudo que faz, e a consequência disso, está no fato de que futuramente ela se tornará incapaz de reconhecer aquilo que faz como sendo bom ou ruim, pois na verdade sua percepção estará atrelada ao que os outros pensam. Se dizem que é bom, então é, se dizem que é ruim, então é. Assim ela estará anulando totalmente a sua capacidade de autocrítica e reconhecimento, trazendo para si, o sentimento de que precisa da aceitação do outro para ser boa e capaz.
Já no encorajamento, a gente estimula a criança a criar um espaço dentro de si, de força e coragem, desenvolvendo sua autoconfiança.
Elogiar - "Nossa seu desenho, tá lindo". Aparentemente esta frase tem um efeito positivo, porém, imagina isso o tempo todo. O elogio é algo que sai da gente para a criança, e não o contrário. Precisamos estimular a capacidade de realização, e que ela não fique na dependência da nossa opinião.
Encorajar - "Eu sei que você consegue" - "Você vai ficar bem" - "Tenho certeza que você vai se acalmar".
    
    Outra ação muito importante da Disciplina Positiva é encorajar o amor. É sempre importante declarar o amor pelos filhos. Trocar "filha você é tão boazinha", por "filha eu amo você independente do seu jeito".

    A DP traz duas situações como sendo primordiais para o bom desenvolvimento da criança, são elas: os sentimentos de conexão e relevância.
Se sentir conectado é ter a certeza de que você pertence aquele grupo, pode ser na família ou até mesmo na sua turma da escola. Toda criança precisa do sentimento de pertencimento.
A relevância é o segundo ponto, toda criança precisa se sentir importante para a sua família ou qualquer outro grupo. Ter significado é algo de extrema importância.
Quando a criança não tem um desses sentimentos ou os dois, começa a agir de forma a supri-los, ou seja, isso pode representar maus comportamentos. Já, aquelas, que alcançaram esses sentimentos têm chances muito menores de desenvolverem comportamentos inadequados.

E quando uma criança está nervosa, como devemos agir?
Vamos entender que é no sistema límbico que processamos todas as emoções. Quando uma criança está nervosa, gritando, é como se ela desconectasse a parte frontal do seu sistema límbico, se desregulando, precisando assim, de um tempo para se acalmar e se reconectar a razão. 
Por conta dos chamados neurônios espelho, o que acaba acontecendo é que se o responsável pela criança, seja mãe, pai ou o educador, se descontrolarem, a criança tende a espelhar esses comportamentos, e ao invés de se acalmar ficará mais nervosa. Não é proibido ter sentimentos, só é preciso reconhecê-los, para se autorregular.
Devemos levar em consideração crianças que estão passando por algum tipo de trauma ou estresse emocional, pois essas crianças tendem a apresentar maus comportamentos, uma vez que seu cérebro já está vulnerável, e portanto, a mínima situação pode gerar uma reação desproporcional. Mais do que nunca essa criança precisa de um bom modelo para se espelhar, e conseguir refletir sobre o que sente.
Quando uma criança está muito agitada, se coloque na altura dela e pergunte do que ela precisa para se acalmar. 

Os pequenos precisam primeiro se autorregular, para depois se desenvolverem pedagogicamente. Por isso a importância da autorregulação, pois sem ela a criança não conseguirá alcançar outros aprendizados. 
Essa autorregulação está diretamente ligada ao estado socioemocional da criança, que é outro ponto muito importante para a DP, uma vez que ela estimula o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Precisamos preparar filhos e alunos para serem inteligentes nestes aspectos, se conhecer, conhecer o outro e desenvolver o uso construtivo das suas habilidades pessoais.

Vou finalizar esta postagem falando da Teoria do Apego, já que através dela a criança estabelece laços de segurança ou insegurança com relação ao mundo.
Resumidamente, a Teoria do Apego trata-se de um ciclo de relaxamento > ansiedade > choro > necessidade atendida, e assim por diante.
Quando o bebê estabelece com seus pais um ciclo saudável, onde existe uma situação de relaxamento, seguida de algo que gera ansiedade (pode ser uma cólica, fome, sono etc.), o bebê se expressa do único jeito que pode, chorando, esse choro faz com que seus pais venham em seu auxílio, atendendo à sua necessidade, esse é o Apego seguro. Mas quando o bebê não tem essas necessidades atendidas, ele internaliza o Apego inseguro.
Um faz com que a criança se torne confiante e segura com relação a vida e o outro faz com que se torne desconfiada e insegura. Sendo assim, podemos afirmar que a prática da Disciplina Positiva pode começar desde cedo, já que segurança e confiança, são dois aspectos importantes para o desenvolvimento saudável do indivíduo.
Precisamos compreender que como qualquer disciplina, a DP funciona a longo prazo, nós mães e professores, temos por hábito resolver o problema em questão, sem perceber as consequências dos nossos atos mais a diante. Antes de qualquer tomada de atitude, devemos conhecer o que a criança está pensando, querendo, e consequentemente agindo de tal maneira.