Após muitos comentários em torno do tema "Meu filho não quer ir para a escola", resolvi esclarecer mais detalhadamente os possíveis motivos da recusa e como devemos agir.
Como já falei em outras postagens, a criança é uma montanha russa de emoções, podendo sair da calma para a agitação, sem motivo aparente. Algumas situações pontuais podem contribuir para a rejeição, mas nem sempre os motivos são claros, levando pais e educadores a fantasiarem uma série de situações.
Nesses casos, a Avaliação Psicológica ajuda bastante na compreensão e identificação das emoções envolvidas no processo criança-escola.
Lembrando que a intensidade das emoções vividas por cada criança no decorrer dos acontecimentos da vida, vai variar de acordo com o ambiente familiar e o jeitinho de ser de cada uma, devemos levar em consideração todos os aspectos da vida dos pequenos.
Não podemos exigir calma, se os pais estão agitados. Também não podemos cobrar de uma criança tímida a mesma desenvoltura de uma criança extrovertida. E assim vão as variáveis.
Nesta postagem falarei dos motivos mais comuns, sendo alguns, apenas identificados através de terapia psicológica:
A chegada do irmãozinho
Com relação a este tema, direciono vocês, para a postagem em que falo apenas deste assunto, lá explico detalhadamente o que acontece nesta fase. leiam o texto A chegada do irmãozinho.
Mudança de casa
Toda mudança de casa, gera uma mudança de rotina e referencial, algumas crianças lidam bem, outras nem tanto, algumas se sentem ansiosas com tantas novidades e outras ficam temerosas por conta das mudanças.
Deixe seu pequeno (a) conhecer a nova casa, às vezes isso implica ficar alguns dias fora da escola. Ele precisa explorar ao máximo o novo ambiente para perceber que lá, estará seguro.
Mudança de escola
Neste caso, a criança terá que lidar com os aspectos da mudança de ambiente, mas também desconstruir momentaneamente uma série de laços afetivos antes já estabelecidos (amigos e professores).
Não faça isso de forma brusca, prepare a criança para esse momento, converse com a escola, para juntas estimularem a mudança. Tente manter os amigos, assim ela não achará que os perdeu. Mantenha contato com as professoras.
Na escola em que trabalho, permitimos ao aluno que sai, nos visitar, e até passar um dia conosco. Assim ele se sente seguro com relação a nova escola e os sentimentos vão acalmando.
Perda de entes queridos
A perda de entes queridos desestabiliza toda a família, na maioria das vezes as crianças precisam de acompanhamento psicológico, para ajudá-las na elaboração da perda. A própria família estará muito triste e mobilizada.
A melhor opção é ficar com as pessoas que amam e confiam. A escola poderá trazer conforto, pois representa seu porto seguro, tendo sensações já conhecidas, mantendo a rotina e o carinho de todos que lá estão, já que em casa o clima pode não ser o mesmo.
Adaptação escolar
Com relação a este tema, direciono vocês, para a postagem em que falo apenas deste assunto, lá explico detalhadamente o que acontece nesta fase. Leiam Adaptação escolar.
Incompatibilidade de perfis (criança e escola)
Pouco percebido pelos pais, a incompatibilidade de perfis, costuma ser um dos motivos mais presentes na vida escolar da criança, gerando resistência na hora de ir para a escola. Assim como cada criança tem características específicas, as escolas também. Quando pensamos em colocar nossos filhos na escola, precisamos nos informar com relação a filosofia e proposta pedagógica de cada uma. Não estamos em busca de perfeição, mas devemos procurar uma escola, que dentro das possibilidades atenda as necessidades de nossos filhos. Quando a criança tem um jeito de ser, totalmente diferente da escola em que ela está, existe uma grande chance do trabalho escolar apresentar problemas em algum momento.
Brigas e separações (pais)
Os pais são referencia na vida de um filho, seu porto seguro. Quando o núcleo familiar não vai bem, pode causar muita raiva, tristeza, insegurança, ansiedade e medo nos pequenos. Por mais que os pais tentem esconder os sentimentos, a criança absorve a energia estabelecida em casa. Por isso, muitos não querem ir para a escola, não sabem exatamente o que vai acontecer se saírem de casa. Na maioria das vezes só é possível bons resultados quando a família está em terapia.
Problemas na escola
Quando falo de problemas na escola, me refiro as questões focadas dentro do ambiente escolar, existem situações que podem gerar conflito no relacionamento aluno-escola. Por exemplo: birra e mordida de amiguinhos e professoras muito rígidas. Em regra geral uma boa conversa com a coordenação da escola resolve esses conflitos, pois toda escola quer manter um ambiente de qualidade para os pequenos.
Período de escolarização
Eu chamo este período de "Fase da preguiça", com 4 ou 5 anos a criança entra no chamado período de escolarização, fase em que vão começar a aprender a ler e escrever, este período muitas vezes representa uma mudança na rotina da criança, pois passam a ter mais atividades, obrigações e a cobrança aumenta, e nem sempre os pequenos conseguem se adaptar de primeira. Uma das maneiras de demonstrar a sua falta de disposição é recusando a escola. A escola precisa fazer essa mudança de forma gradual e interessante. Em casa podemos falar da importância das tarefas e estimular de forma lúdica esse aprendizado.
Dependência da mãe ou ansiedade da separação
Neste caso o aluno apresenta forte dependência da figura materna, com grande dificuldade de se adaptar a novos espaços e pessoas, sem que a mãe esteja por perto. É preciso desde cedo dar alguma autonomia aos filhos, para que mais tarde eles consigam lidar com as novidades. Na maioria dos casos de ansiedade da separação é preciso intervenção psicológica.
Fobia Escolar
É o medo excessivo da escola, os principais sintomas são: angústia, ansiedade, medo, suor, choro frequente, tremores, irritabilidade etc.
Muitas mães tem dificuldade em diferenciar fobia escolar do medo "normal", mas é muito simples, na fobia escolar não há brecha para conforto, a criança se sente o tempo todo temerosa e ansiosa. É um estado constante de ansiedade incontrolável. Poderá desenvolver sintomas psicossomáticos (diarreia, vomito, alergias, febre, dor de cabeça etc.).
O sofrimento psíquico vai se manifestar na escola, mas também pode ocorrer em casa, pelo simples fato de saber que terá que ir para a escola. No ambiente escolar a criança fica muito nervosa.
A única maneira de tratar a fobia escolar é através da terapia psicológica. Existe uma série de conflitos que podem desencadear o distúrbio e que precisam ser analisados cuidadosamente.
Bullying
O bullying é caracterizado por agressões verbais e físicas de maneira intencional, ocorrem de forma repetitiva contra um ou mais colegas. A criança que sofre o bullying, começa a desenvolver medo e ansiedade com relação a escola. Essa dinâmica deve ser tratada através de processos terapêuticos levando em consideração todas as partes (agressor, agredido, escola e família).
Lembrem-se que nem sempre há lógica nas ações e principalmente nos sentimentos, sendo assim, a criança pode apresentar mais de um motivo ao mesmo tempo , ou motivos diferentes em épocas diferentes. O fundamental para se chegar a causa da recusa é a parceria casa/escola.
Não deixem de procurar orientação psicológica, toda vez que os sintomas persistirem ou se existir dúvida com relação ao motivo.