Esta semana, uma professora me procurou, bastante preocupada com o comportamento de um aluno (que chamarei de Pedrinho). Pedrinho não demonstra reação diante das provocações de seus colegas, sofrendo constantemente empurrões, beliscões e xingamentos (como "bobo", "feio", "chato"), sem expressar qualquer queixa. Essa situação tem gerado uma grande tensão na professora, que teme que, se Pedrinho não reagir a essas ações agora, poderá sofrer insultos mais graves no ensino fundamental.
Pedrinho tem 5 anos e integra um grupo de crianças da mesma faixa etária em uma escola de educação infantil, onde está matriculado desde os primeiros anos de vida. Seu desenvolvimento escolar é plenamente satisfatório, com funções cognitivas compatíveis com a média do grupo, ou até ligeiramente superiores. Nunca teve problemas de relacionamento com seus colegas e é uma criança bastante falante e extrovertida, embora apresente algumas características de imaturidade emocional em certos comportamentos e palavras.
Com base nos fatos descritos, gostaria de abordar, nesta postagem, esse tipo de comportamento, frequentemente interpretado como apatia, passividade ou submissão.
É importante recordar que cada criança tem seu próprio perfil de personalidade, que deve ser respeitado. Algumas são mais extrovertidas, falantes e ousadas, enquanto outras são mais tímidas, reservadas e introspectivas. Essas diferenças não indicam que uma criança esteja errada ou tenha algum problema. É possível, inclusive, observar características opostas em uma mesma criança, dependendo da situação à qual ela está exposta.
Muitos profissionais têm a tendência de avaliar as crianças sempre sob uma perspectiva patológica. No entanto, não é desejável realizar diagnósticos precipitadamente, o que pode gerar angústia nas famílias. O mais importante é estarmos atentos para verificar se alguma dessas características está impactando negativamente a vida diária da criança, afetando suas funções físicas, emocionais ou cognitivas. Se for o caso, a busca por ajuda especializada é essencial para que o problema não se estenda até a adolescência.
O papel do psicólogo é fundamental nesse processo, pois ele pode avaliar os traços de personalidade da criança, identificar níveis de ansiedade e compreender as características emocionais que definem o "jeitinho" dela de ser, ao mesmo tempo em que examina suas funções cognitivas. Isso nos permite conhecer melhor a criança e apoiá-la de maneira mais eficaz em seu processo de aprendizagem e socialização.
No caso específico de Pedrinho, observamos que ele nunca foi verdadeiramente prejudicado por essas ações, o que sugere que, na realidade, ele não se incomoda com essas "pequenas" provocações. Como seu desenvolvimento não está sendo afetado, acreditamos que o impacto seja muito mais perceptível para nós, adultos, do que para a própria criança.
É claro que, como educadores, precisamos ensinar as crianças sobre o que é certo e errado. Não podemos ignorar comportamentos inadequados, mesmo que, no caso de Pedrinho, ele pareça não se importar com as situações que ocorrem. Devemos chamar a atenção dos colegas, mostrando que estão errados, e também incentivar Pedrinho a se comunicar com a professora sempre que esse tipo de situação ocorrer.
Em minha experiência, observei que, em muitos casos, crianças que demonstram uma postura excessivamente passiva diante das situações da vida tendem a modelar comportamentos observados em seus pais. Quando um ou ambos os pais adotam uma postura indiferente ou apática em relação aos acontecimentos do cotidiano, a criança pode replicar esse comportamento, internalizando-o como um modelo de reação diante dos desafios da vida.