2. Experiências subjetivas: Relacionadas às vivências e sentimentos particulares de cada indivíduo em relação à situação em questão. Na realidade, existe uma parte de nós que responde de maneira única a determinadas situações, influenciada por nossas experiências anteriores e pela forma como as interpretamos. Cada pessoa tem uma maneira única de ser, e, por consequência, a forma como sentimos também varia. O que pode ser negativo para uma pessoa, não necessariamente será para outra. Por exemplo: alguém que tenha tido uma experiência traumática com cachorros pode ter uma resposta emocional diferente ao se deparar com um cão, em comparação com alguém que nunca teve uma experiência negativa com eles;
3. Respostas comportamentais: São ações que resultam das nossas emoções. Ou seja, a nossa ação está diretamente relacionada ao que sentimos. Assim, é fundamental que consigamos articular nossos pensamentos para que nossas ações favoreçam a adaptação ao ambiente em que estamos inseridos.
Portanto, podemos observar que as respostas fisiológicas e as experiências subjetivas estão mais associadas à forma como sentimos uma situação, enquanto as respostas comportamentais estão ligadas à nossa reação diante do que sentimos em relação a essa situação.
Outro questionamento comum diz respeito à classificação das emoções em positivas e negativas. Tentarei esclarecer esse ponto. Normalmente, consideramos como emoções positivas a alegria, o amor, a felicidade, e como negativas a tristeza, a raiva, o medo, entre outras. No entanto, essa percepção é equivocada. O que caracteriza uma emoção como positiva ou negativa (ou podemos chamá-las também de favoráveis ou desfavoráveis) é a maneira como as utilizamos para nos adaptar ao ambiente, ou seja, a adequação da decisão tomada frente ao contexto em que o indivíduo está inserido.Podemos, então, afirmar que uma emoção favorável ou positiva é aquela que nos leva a tomar as melhores decisões. Caso contrário, seriam emoções desfavoráveis. Por exemplo, quando nos deparamos com um leão, sentimos medo. Se conseguirmos usar esse medo para nos proteger, podemos considerar que, nesse caso, o medo foi uma emoção positiva.
A emoção ocorre em quatro etapas: situação, atenção, avaliação e resposta.
Agora que já compreendemos o que são as emoções e como elas se manifestam, podemos avançar para o conceito de habilidades socioemocionais.
Os termos "educação emocional", "habilidades emocionais" e "inteligência emocional" têm sido bastante mencionados. Vamos, portanto, fazer uma breve distinção entre esses conceitos.
Habilidades emocionais são as competências que compõem a inteligência emocional (IE) e são ensinadas na educação emocional (EE).
Inteligência emocional é a capacidade do indivíduo de perceber, reconhecer, regular e gerenciar suas emoções, com o objetivo de adaptar seu comportamento ao ambiente, além de utilizar de maneira adequada suas habilidades cognitivas. As habilidades relacionadas às emoções devem orientar nossos pensamentos e ações.
Educação emocional refere-se ao processo de ensino das habilidades emocionais, sendo o estímulo e aprimoramento necessário para que filhos e alunos desenvolvam suas competências emocionais.
Embora exista uma sutil diferenciação entre esses conceitos, todos convergem para o desenvolvimento das habilidades intrapessoais.
As relações intrapessoais são fundamentais para o desenvolvimento das relações interpessoais, pois só conseguimos estabelecer conexões saudáveis com os outros quando cultivamos uma relação positiva com nós mesmos. Ter um bom entendimento de nossas emoções, reconhecer nossas necessidades e lidar com nossos próprios sentimentos de maneira equilibrada nos permite interagir de forma mais empática e assertiva com as pessoas ao nosso redor. Quando somos capazes de nos compreender e respeitar, criamos uma base sólida para construir vínculos saudáveis e genuínos, pois a qualidade da nossa interação com os outros reflete diretamente o nível de autoconhecimento e aceitação que temos de nós mesmos. Assim, fortalecer as relações intrapessoais é, sem dúvida, o primeiro passo para o sucesso nas relações interpessoais.
O desenvolvimento das relações intrapessoais e interpessoais nos leva ao fechamento do conceito de habilidades socioemocionais, pois as mesmas, englobam competências para sabermos lidar com nós mesmos e com os outros, e que são essenciais, já que desejamos cultivar em nossas crianças, futuros adolescentes e adultos, uma vida plena, marcada por sucesso pessoal, acadêmico e profissional. Ao fortalecer essas competências, preparamos nossas crianças para lidar com desafios, estabelecer conexões significativas e construir trajetórias mais equilibradas e realizadas.
Para entender o trabalho das habilidades socioemocionais, desde cedo, precisamos ter em mente que não somos constituídos de um único elemento. A construção do nosso "eu" está atrelada ao desenvolvimento de múltiplos aspectos: motor, cognitivo, emocional e social.
Esses aspectos se complementam ao longo da nossa jornada de desenvolvimento, e precisam caminhar em harmonia. Contudo, isso não implica que se desenvolvam de forma equilibrada; na primeira infância, é comum que o desenvolvimento desses aspectos ocorra de maneira desproporcional. Por exemplo, uma criança pode apresentar um desenvolvimento motor mais avançado enquanto seu desenvolvimento emocional ainda se encontra em um estágio mais inicial, ou até mesmo estagnado. O mais importante é estimular todos esses aspectos sem estabelecer uma ordem de prioridade entre eles, a fim de permitir que a criança desenvolva o aspecto que está mais carente.
Observamos essa característica nas Escolas de Educação Infantil, especialmente nas que trabalham com berçários. Normalmente, o marco para a saída do berçário é o caminhar; quando a criança começa a andar, ela é considerada pronta para a próxima etapa. No entanto, algumas crianças começam a andar aos 9, 10 ou 11 meses, demonstrando um avanço no desenvolvimento motor, mas ainda apresentam imaturidade emocional. Infelizmente, muitas famílias não compreendem essa evolução e acabam acreditando que todos os aspectos do desenvolvimento também amadureceram na mesma proporção.
Postergar a transição dessas crianças para o maternal não significa atrasar seu processo acadêmico; pelo contrário, significa dar a elas todo o conforto e segurança necessários para que possam, dentro de seu tempo, desenvolver o que é essencial.
Dentro do ambiente escolar, podemos perceber uma grande ansiedade em torno desse tema, pois é nesse contexto que ocorre a maior parte do processo de ensino-aprendizagem. Quais são as angústias mais comuns? Será que meu filho vai aprender a ler e escrever? Será que ele absorveu o conteúdo necessário para tirar uma boa nota na prova? Será que passará no ENEM?
Podemos notar que a maioria das preocupações está relacionada ao desenvolvimento cognitivo. No entanto, o que muitos não sabem é que o desenvolvimento cognitivo está intrinsecamente ligado aos aspectos emocionais, sociais e motores.
Para ilustrar tudo que falamos nesse texto, gostaria de usar um exemplo, que para quem trabalha em escola, não é novidade: o adolescente que, apesar de ter um excelente desenvolvimento cognitivo e ser muito estudioso, sente-se fisicamente indisposto no dia da prova e acaba esquecendo todo o conteúdo ou parte dele(o famoso "branco"), tirando uma nota baixa. Perceba que o desenvolvimento cognitivo, por si só, não foi suficiente para que esse aluno obtivesse bons resultados acadêmicos. Será que faltou inteligência emocional para ele seguir em frente? Reconhecer suas emoções, gerenciá-las adequadamente e adaptá-las ao contexto da prova poderia ter feito a diferença, permitindo que ele utilizasse suas habilidades cognitivas de forma mais eficaz. Assim, podemos concluir que, de fato, faltou inteligência emocional. Ele não conseguiu reconhecer e utilizar suas emoções a seu favor, prejudicando seu desempenho, o que confirma a importância de considerarmos todos os aspectos do desenvolvimento, quando trabalhamos com crianças e adolescentes.
A inteligência emocional não é algo que se conquista da noite para o dia. É necessário inserir a educação emocional na vida de nossos filhos e alunos desde cedo, para que possam desenvolver suas habilidades socioemocionais e, eventualmente, alcançar a inteligência emocional necessária para o sucesso na vida acadêmica, pessoal e profissional.