Queridos pais, educadores e amigos
É com grande apreço e dedicação que utilizo este espaço para compartilhar reflexões sobre a primeira infância. Após muitos anos de trabalho e estudo com crianças, observei que, além dos transtornos que podem acometer os pequenos, existem diversos aspectos do desenvolvimento infantil que geram dúvidas e ansiedade. Por meio dos meus textos, busco elucidar questões, esclarecer dúvidas de pais e educadores, e promover o compartilhamento de experiências relacionadas ao tema.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que não faço julgamentos quanto à forma como cada família cria seus filhos. Sempre procuro respeitar as particularidades de cada núcleo familiar, levando em consideração suas crenças e valores. Acredito na bondade humana e na capacidade dos pais de amarem seus filhos incondicionalmente, fazendo tudo ao seu alcance para protegê-los (com as devidas exceções, é claro).
Toda criança está inserida em um contexto familiar, e seja qual for a situação, a família desempenha um papel fundamental. Em nossa prática, nunca trabalhamos com a criança de forma isolada; a terapia infantil envolve também os pais, que muitas vezes necessitam de apoio tanto quanto a criança.
Em segundo lugar, não sou adepta de rótulos ou diagnósticos rígidos, tampouco de datas limite para o alcance de determinadas fases do desenvolvimento infantil. Embora, como profissionais, seja essencial possuir conhecimento acerca das dificuldades que podem afetar as crianças, assim como das idades de referência para os marcos do desenvolvimento, é justamente esse conhecimento que nos permite adotar uma abordagem flexível. Ele amplia nossa visão, permitindo-nos perceber o vasto mundo que gira ao redor das crianças e, consequentemente, suas necessidades e capacidades, sempre vinculadas ao seu SER.
Ao invés de nos restringirmos às dificuldades ou deficiências, devemos focar nas habilidades, potencialidades e possibilidades de cada criança. É a partir dessas potencialidades que conseguimos obter resultados positivos e ajudá-las a superar obstáculos. Ao depararmos com uma deficiência, já sabemos as limitações dessa criança; no entanto, o foco não deve ser explorar suas fraquezas, mas sim utilizar seus aspectos funcionais para promover seu desenvolvimento. Dessa forma, podemos ajudá-la a viver uma infância mais plena e saudável.
Gostaria de compartilhar o caso de uma mãe, que embora não tenha sido minha paciente, fez parte do meu cotidiano. Essa mãe se empenha diariamente em fornecer estímulos para melhorar a condição física de sua filha, diagnosticada com cegueira total no olho direito e parcial no olho esquerdo. A criança, hoje com 8 anos, aprendeu a desenvolver mecanismos compensatórios que permitem que ela enxergue com maior clareza. Embora não seja possível quantificar a melhoria de sua visão, as experiências diárias demonstram um progresso significativo.
Se essa mãe tivesse se conformado apenas com o diagnóstico inicial, a realidade de sua filha teria sido muito diferente. Esse exemplo ilustra como o foco nas potencialidades de uma criança, em vez de nas suas limitações, pode gerar resultados extraordinários.
Esse tipo de reflexão é crucial para profissionais que lidam com crianças, incluindo os educadores. O aprimoramento contínuo sobre os graus de funcionamento infantil pode facilitar muito os processos de inclusão, promovendo um ambiente mais acolhedor e assertivo.
Espero que os textos aqui apresentados sirvam para esclarecer dúvidas e, se necessário, incentivar a busca por um profissional especializado.
Com carinho, Luciana