Atenção à rotina familiar e seu impacto no desenvolvimento infantil
É essencial ter cuidado com a rotina doméstica, pois certos rituais, muitas vezes gerados pela falta de tempo, medo ou ansiedade, podem afetar o cotidiano da criança na escola e, consequentemente, seu desenvolvimento. Esses fatores podem levar os educadores a questionarem a existência de um possível problema no progresso da criança.
Por essa razão, quando uma criança começa a apresentar atrasos no desenvolvimento de suas funções, é fundamental convocar os pais para uma conversa o mais rápido possível, a fim de compreender o contexto e buscar as devidas orientações.
Como exemplo, citarei o caso de uma criança de 1 ano e 10 meses, que iremos chamar de Clarinha, e que estamos monitorando há algumas semanas.
Clarinha está conosco desde os 4 meses de idade. Sempre foi uma criança calma e tranquila, com uma leve resistência nos movimentos corporais, embora sem apresentar qualquer atraso no desenvolvimento de suas funções cognitivas, emocionais ou psicomotoras.
Quando Clarinha retornou das férias e passou para a turma de maternal, sua estagnação ficou evidente diante das atividades propostas. No grupo de maternal, a rotina é dinâmica e repleta de atividades, porém, Clarinha não respondia aos chamados dos educadores e apresentava dificuldades para mastigar os alimentos.
Apesar de reconhecermos que cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, a apatia de Clarinha diante de situações que, geralmente, despertam o interesse das demais crianças, gerou preocupações em nossa equipe pedagógica. Decidimos, então, convocar uma reunião com os pais para compreender melhor o contexto familiar e a rotina doméstica.
Ficamos surpresas ao perceber que, embora a dinâmica familiar fosse cheia de amor e cuidados, o excesso de zelo estava impactando negativamente no desenvolvimento motor de Clarinha. Notamos que os pais frequentemente a chamavam de “bebê”, o que, em testes feitos na escola, causou uma resposta imediata de Clarinha, evidenciando que ela se acostumou a ser tratada dessa forma e, por isso, não correspondia quando a chamávamos pelo nome.
A mãe, com receio de que a criança se machucasse, evitava deixá-la no chão, mantendo-a frequentemente no berço ou no colo, o que limitava seus movimentos e dificultava sua independência motora. Como resultado, Clarinha desenvolveu uma certa “falta de iniciativa” para realizar movimentos sozinha, já que sua transição de um lugar para outro dependia sempre da intervenção dos pais.
Outro fator importante observado foi a introdução alimentar. Devido ao medo dos pais de que a criança se engasgasse, Clarinha foi alimentada exclusivamente com sopas e líquidos, o que justificava sua dificuldade para mastigar alimentos mais sólidos.
Após a reunião, os pais reconheceram que algumas mudanças eram necessárias para o desenvolvimento de Clarinha e, com isso, passaram a seguir as orientações fornecidas pela equipe pedagógica. Como resultado, já observamos consideráveis avanços no seu desenvolvimento. Contudo, será necessário um período adicional de adaptação até que ela se habitue à nova rotina e passe a realizar as atividades que antes não conseguia executar.