As Novas Relações entre Família e Escola

Neste artigo, abordarei um tema que tem sido amplamente discutido no âmbito educacional e que impacta diretamente a rotina tanto das instituições de ensino quanto das crianças: as novas relações que estão emergindo entre família e escola.

Com o avanço das discussões sobre a conciliação entre a vida profissional e as responsabilidades de ser pai e mãe, é importante ressaltar que, ao se tornar responsável por um filho, os pais assumem uma responsabilidade contínua, que não deve ser delegada ou negligenciada. Não existem justificativas para a ausência no cotidiano educacional dos filhos, especialmente considerando os diversos serviços de apoio disponíveis atualmente, como creches, babás, colônias de férias, atividades extracurriculares, entre outros. No entanto, é necessário estabelecer limites claros e compreender que a total terceirização dos cuidados e da educação não é viável.

Vivemos uma época de mudanças sociais significativas, especialmente no que diz respeito aos valores morais que fundamentam as relações interpessoais. O respeito, um dos pilares fundamentais de qualquer sociedade, tem se tornado cada vez mais raro, o que gera uma série de consequências negativas, inclusive no contexto da parceria entre família e escola.

Antigamente, os pais escolhiam a escola com base em sua confiança na proposta pedagógica e no ambiente de afeto que ela oferecia, sabendo que estava oferecendo o melhor para seus filhos. Havia uma colaboração mútua entre família e escola, baseada na confiança e no compromisso com o desenvolvimento integral da criança. No entanto, atualmente, essa relação parece ter se transformado em uma transação comercial, com o foco centrado no conceito de consumo. Muitos pais passam a questionar: "O que estou recebendo em troca pelo valor que pago?", tratando a relação educacional como se fosse mediada por um código de consumo.

É aqui que surge um problema crucial, pois o "produto" educacional não pode ser mensurado a curto prazo. Isso gera uma sensação de que não estão recebendo o retorno esperado, criando um ambiente de cobrança e expectativas que não se alinham à proposta pedagógica da instituição. A preocupação excessiva com a função assistencial (cuidar das crianças enquanto os pais trabalham, banho, sono e alimentação) — embora de extrema importância — não deve obscurecer o propósito maior da escola, que é a formação integral do aluno, baseada na construção de valores e no desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais.

Outro agravante dessa distância entre família e escola é o aumento da comunicação mediada por tecnologias digitais. Anteriormente, quando surgiam conflitos, era possível a interação direta entre pais e escola, permitindo uma resolução mais eficaz e alinhada com as necessidades dos alunos. Hoje, muitos pais tentam resolver tudo remotamente, o que cria um grande obstáculo para uma comunicação eficaz e genuína. Embora a comunicação digital tenha seus méritos, ela nunca poderá substituir a interação pessoal. A sensação de culpa por não poder estar fisicamente presente na rotina escolar dos filhos pode levar os pais a acreditar erroneamente que conseguem monitorar e controlar a educação de seus filhos por meio desses mecanismos virtuais, o que é uma ilusão.

A ausência de contato direto e de um acompanhamento presencial cria uma lacuna nas percepções dos pais, que, muitas vezes, acabam se baseando em informações distorcidas ou incompletas, alimentando um ciclo de desconfiança e cobranças exacerbadas. A comunicação virtual não é capaz de transmitir a totalidade da experiência escolar e, muitas vezes, gera interpretações errôneas da realidade.

Sugiro que, sempre que informações relevantes sobre a vida escolar dos filhos forem divulgadas por canais digitais, os pais busquem o contato direto com a escola, a fim de esclarecer dúvidas e confirmar a veracidade das informações. O avanço tecnológico trouxe incontáveis benefícios, mas, como tudo na vida, quando utilizado de maneira inadequada, pode gerar efeitos adversos.

Portanto, é imprescindível que mantenhamos o compromisso com uma relação colaborativa, em que a escola e a família compartilham responsabilidades no processo educacional, respeitando seus papéis e alinhando suas expectativas. O foco principal deve sempre ser a qualidade do trabalho pedagógico e o bem-estar do aluno, garantindo, assim, o pleno desenvolvimento das crianças.