Quando pensamos em infância, o brincar é, sem dúvida, uma das primeiras imagens que nos vêm à cabeça. E com razão: brincar não é só passatempo — é linguagem, expressão e, acima de tudo, desenvolvimento. Especialmente quando falamos das emoções, o brincar tem um papel poderoso na formação de crianças emocionalmente saudáveis e seguras.
Apesar de, muitas vezes, ser visto como algo “simples” ou “sem importância”, o ato de brincar é uma atividade altamente complexa do ponto de vista neurológico e emocional. É por meio das brincadeiras que a criança entende o mundo à sua volta, organiza sentimentos, aprende a se relacionar com os outros e, aos poucos, constrói sua identidade.
Brincar é coisa séria (e muito necessária)
A neurociência e a psicologia infantil apontam que o brincar ativa diversas áreas do cérebro responsáveis por funções como empatia, autocontrole, resolução de conflitos e tomada de decisões. Ao brincar, especialmente de faz de conta, a criança simula situações da vida real, experimenta papéis sociais, expressa medos e desejos — tudo isso de forma segura e espontânea.
Brincadeiras ajudam a:
- Elaborar emoções difíceis, como raiva, ciúme, tristeza e medo;
- Desenvolver empatia, ao se colocar no lugar do outro;
- Praticar a resolução de conflitos, criando regras e negociando com colegas;
- Ganhar confiança e autoestima, ao experimentar novas ideias e soluções;
- Aprender a lidar com frustrações, como perder um jogo ou esperar sua vez.
Ou seja, enquanto parece “só uma brincadeira” do lado de fora, por dentro o cérebro da criança está a todo vapor, construindo habilidades emocionais que ela levará para a vida inteira.
O adulto também brinca — e muito contribui
A participação de pais, professores ou cuidadores nas brincadeiras não é apenas um momento de lazer compartilhado — é também uma oportunidade valiosa de criar vínculos afetivos profundos e ajudar a criança a entender melhor suas emoções.
Quando um adulto entra no mundo da criança com presença real — sem pressa, sem celular, com olhar atento — ele transmite a mensagem: “o que você sente e pensa é importante pra mim”. Isso fortalece o sentimento de pertencimento, segurança e aceitação.
Além disso, o adulto pode aproveitar a brincadeira para:
- Nomear sentimentos (ex.: “o ursinho ficou triste porque perdeu o brinquedo?”);
- Ajudar a lidar com perdas ou frustrações;
- Ensinar limites e respeito, de forma leve e natural.
Tipos de brincadeiras e suas contribuições emocionais
Cada tipo de brincadeira traz benefícios diferentes para o desenvolvimento emocional. Veja alguns exemplos:
Brincadeiras simbólicas (faz de conta): ajudam a elaborar medos e conflitos internos.
Jogos de regras (como dominó ou pega-pega): ensinam cooperação, respeito às regras e tolerância à frustração.
Brincadeiras sensoriais (como massinha, areia, tinta): ajudam na autorregulação emocional e acalmam o sistema nervoso.
Brincadeiras livres ao ar livre: promovem autonomia, criatividade e contato com o corpo.
Brincar também é prevenção
Muitos desafios emocionais enfrentados pelas crianças — como ansiedade, agressividade ou baixa autoestima — encontram na brincadeira um caminho de expressão e cura. Por isso, o brincar pode ser também uma ferramenta de prevenção em saúde mental infantil.
Quando a criança brinca com liberdade e apoio, ela desenvolve recursos internos para lidar melhor com as emoções e com as frustrações da vida. Ela aprende, na prática, a enfrentar o mundo de forma mais segura e equilibrada.
Conclusão
Brincar é mais do que um direito da criança — é uma necessidade emocional e um instrumento poderoso de desenvolvimento. É brincando que ela aprende a se conhecer, a confiar em si, a se relacionar com os outros e a lidar com os altos e baixos da vida.
Portanto, quando um adulto dedica tempo e presença para brincar com uma criança, ele está fazendo mais do que entreter: está educando emocionalmente, fortalecendo vínculos e deixando marcas de amor e segurança que durarão para sempre.