Quem convive com crianças já deve ter se deparado com momentos intensos: choros que parecem “sem motivo”, raivas exageradas, frustrações que se transformam em tempestades. Nessas horas, é comum ouvir frases como: “Não foi nada, para de chorar”, “isso é bobagem”, “engole esse choro”. E, mesmo sem intenção, esse tipo de resposta invalida o que a criança está sentindo.
Mas existe uma forma muito mais eficaz — e saudável — de lidar com essas situações: a validação emocional. E ela pode fazer toda a diferença no desenvolvimento emocional da criança.
O que é validação emocional?
Validar emocionalmente é reconhecer e acolher o que a criança está sentindo, mesmo que o sentimento pareça “exagerado” ou difícil de entender. É dizer, com palavras e atitudes: “Eu vejo o que você está sentindo, e está tudo bem sentir isso.”
Isso não significa concordar com todos os comportamentos da criança, mas sim mostrar que o sentimento por trás da ação é legítimo. A validação ajuda a criança a entender o que está acontecendo dentro dela, colocando nome nas emoções e aprendendo a lidar com elas de forma mais saudável.
Por que isso é tão importante na infância?
Durante os primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em formação, principalmente as áreas ligadas à autorregulação, empatia e controle de impulsos (como o córtex pré-frontal). A criança ainda não sabe lidar com emoções intensas sozinha — ela depende da mediação de um adulto para organizar o que sente.
Quando um adulto invalida a emoção da criança (mesmo sem querer), ela aprende que seus sentimentos são errados ou “proibidos”. Isso pode gerar insegurança emocional, dificuldade de confiar em si mesma, repressão emocional e até comportamentos agressivos ou retraídos.
Por outro lado, quando a emoção é validada com empatia, a criança se sente vista, compreendida e amada. E isso tem efeitos profundos e duradouros:
- Fortalece o vínculo entre adulto e criança;
- Ajuda a criança a se conhecer emocionalmente;
- Favorece o desenvolvimento da autorregulação emocional;
- Reduz comportamentos explosivos ao longo do tempo;
- Aumenta a autoestima e a segurança emocional.
Como validar as emoções na prática?
Validar emoções não exige frases complexas ou grandes discursos. O essencial é estar presente, acolher e nomear o que a criança está sentindo. Veja alguns exemplos práticos:
🚫 “Para de chorar, não foi nada.”
✅ “Eu entendo que você ficou triste com isso. É normal se sentir assim.”
🚫 “Não precisa ter medo, isso é bobeira.”
✅ “É normal sentir medo em situações novas. Eu estou aqui com você.”
🚫 “Você está bravo por besteira!”
✅ “Você está com raiva porque não conseguiu o que queria, né? Isso acontece mesmo.”
A validação não significa que o adulto vá permitir tudo. A criança pode, sim, ser frustrada, ouvir “não”, receber limites — mas sem que seu sentimento seja desmerecido. Por exemplo:
- “Eu sei que você está com muita raiva porque queria continuar brincando, mas agora é hora de guardar os brinquedos. Eu entendo que é difícil.”
E quando a criança não sabe dizer o que está sentindo?
Isso é mais comum do que se imagina, especialmente nas crianças menores. Nesse caso, o adulto pode ajudá-la a dar nome ao sentimento, com frases como:
- “Você está com uma carinha triste. Aconteceu alguma coisa?”
- “Tá tudo bem ficar bravo. Vamos respirar juntos?”
- “Eu estou percebendo que você está incomodado. Quer me contar?”
Com o tempo e a repetição desse tipo de diálogo, a criança começa a identificar sozinha o que está sentindo e aprende formas mais saudáveis de expressar isso.
Conclusão
Validar emoções é uma prática simples, mas extremamente poderosa. Quando um adulto valida o que a criança sente, ele está ensinando algo essencial: que todos os sentimentos são permitidos, mas que existem formas saudáveis de expressá-los.
Crianças que crescem sendo emocionalmente validadas tendem a se tornar adultos mais seguros, empáticos, resilientes e conscientes de si mesmos. Afinal, quem aprende desde cedo que pode sentir, também aprende que pode confiar — em si, no outro e no mundo.
E isso é uma das maiores formas de cuidado e amor que podemos oferecer na infância.