Hoje em dia, as telas fazem parte do cotidiano das famílias: celular, tablet, televisão, computador... Estão por toda parte. E embora a tecnologia possa ser uma aliada em muitos momentos, o uso excessivo de telas na infância tem levantado preocupações sérias entre especialistas do mundo todo.
Isso porque a infância é um período de intenso desenvolvimento cerebral, emocional e social. E quando as telas ocupam um espaço maior do que deveriam, acabam tomando o lugar de experiências fundamentais para o crescimento saudável da criança.
Mas afinal, qual é o limite? E quais são, de fato, os riscos do uso exagerado das telas na infância?
O cérebro da criança precisa de estímulos reais
Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança se desenvolve de forma acelerada. Nessa fase, as conexões neurais se fortalecem a partir das interações com o ambiente real: brincar, explorar, conversar, se movimentar, olhar nos olhos dos adultos, sentir o cheiro da comida, tocar em objetos, criar histórias...
Essas experiências ativam múltiplas áreas cerebrais ao mesmo tempo — algo que as telas, por mais coloridas e interativas que sejam, não conseguem substituir.
Quando a criança passa muitas horas por dia em frente a uma tela, ela perde oportunidades valiosas de aprendizado sensorial, motor, social e afetivo. O cérebro fica mais “passivo” e menos estimulado a construir conhecimentos de forma integrada e profunda.
Quais são os impactos do uso excessivo de telas?
Estudos realizados por instituições como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam diversos efeitos negativos do uso exagerado de telas em crianças, especialmente na primeira infância (0 a 6 anos). Veja alguns dos principais:
📉 Atrasos no desenvolvimento da linguagem
Crianças expostas precocemente às telas tendem a interagir menos verbalmente com os adultos. A linguagem se desenvolve com conversa, escuta ativa e contato olho no olho — algo que não acontece com vídeos ou aplicativos.
🧠 Déficits de atenção e dificuldade de concentração
O ritmo acelerado dos vídeos e jogos digitais pode afetar a capacidade da criança de manter foco em atividades mais lentas e exigentes, como escutar uma história ou brincar de forma livre e criativa.
😔 Problemas emocionais e comportamentais
O uso exagerado de telas está associado a maior irritabilidade, impaciência, dificuldade para lidar com frustrações e até sintomas de ansiedade e depressão.
🛏️ Distúrbios no sono
A luz azul das telas interfere na produção de melatonina, o hormônio do sono, dificultando o adormecer e afetando a qualidade do descanso da criança.
🚶♀️ Sedentarismo e prejuízos na coordenação motora
Ficar muito tempo parado em frente a telas reduz o movimento corporal — essencial para o desenvolvimento motor, equilíbrio, percepção espacial e saúde física.
🤝 Dificuldades de socialização
Crianças que ficam muitas horas conectadas têm menos oportunidades de desenvolver habilidades sociais, como negociar, esperar a vez, compartilhar, reconhecer expressões faciais e lidar com o outro.
Existe um “uso saudável” de telas?
Sim, o problema não está exatamente nas telas, mas no excesso e na falta de critério. Em pequenas doses e com supervisão adulta, o uso pode ser educativo, recreativo e até uma forma de conexão.
Especialistas recomendam:
- Nada de telas para crianças menores de 2 anos (exceto chamadas de vídeo, por motivos afetivos);
- De 2 a 5 anos: no máximo 1 hora por dia, com supervisão ativa de um adulto;
- A partir dos 6 anos: é possível ampliar gradualmente, sempre com equilíbrio e limites claros.
O mais importante é garantir que o tempo de tela não substitua outras experiências fundamentais, como:
- Brincadeiras livres e ao ar livre;
- Convívio familiar e social;
- Leitura de livros;
- Alimentação com atenção plena (sem telas à mesa);
- Sono adequado e rotina estruturada.
E o exemplo dos adultos?
As crianças aprendem muito mais pelo que veem do que pelo que ouvem. Se o adulto está sempre no celular, pouco disponível emocionalmente, isso também ensina algo — mesmo que sem palavras.
Reduzir o uso de telas em família, criar momentos de conexão e estabelecer “zonas livres de tela” (como na hora das refeições e antes de dormir) são formas de cultivar hábitos mais saudáveis para todos.
Conclusão
O excesso de telas na infância é um desafio da vida moderna — e, ao mesmo tempo, um alerta importante. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de usá-la com consciência e equilíbrio, respeitando as necessidades reais do desenvolvimento infantil.
A infância é uma fase preciosa e única. Quanto mais contato com o mundo real, com pessoas, com o corpo e com as emoções, mais chances a criança terá de crescer com saúde, criatividade, empatia e segurança emocional.
Desligar a tela, muitas vezes, é abrir espaço para o que realmente importa: a vida acontecendo de verdade.