Pais ausentes

Atualmente, um dos grandes desafios na escola é a falta de acompanhamento dos pais na educação e criação dos filhos. Entendo que estamos vivendo uma época corrida, a mulher entrou firmemente no mercado de trabalho e os avanços tecnológicos estão assoberbando nossas vidas, pois, ao mesmo tempo em que trouxeram facilidades para nosso dia a dia, nos mantêm conectados 24 horas em nossos afazeres. Mas nada é desculpa para esquecermos que quando colocamos uma criança no mundo estamos assumindo responsabilidade pra toda vida. E que seu desenvolvimento emocional, cognitivo e físico depende de nós.
A ausência dos pais é uma das principais causas das inadequações ao longo da infância. Os jovens estão sem nenhuma orientação e acompanhamento.
Como consequência à essa omissão, muitos jovens começam a apresentar pequenos desajustes em seu comportamento, distúrbios emocionais e deficiências escolares que com o tempo poderão virar sérios problemas comportamentais e emocionais. Não tem quem sobreviva à falta de atenção e cuidados. Toda criança precisa ser amada e guiada, são esses elementos que constituem nossa personalidade, nos tornando o que somos.

     Tanto a educação, como os cuidados estão cada vez mais terceirizados. Na escola percebo isso diariamente, muitas exigências com relação a tudo (alimentação, higiene, sono, educação etc.), mas o mesmo não acontece em casa, às vezes tenho a sensação que acham que a responsabilidade é só da escola. Os pais contratam muitas cuidadoras, babás e atividades extras para a criança, na fantasia de que estão substituindo sua presença. 
É possível dedicar algum tempo aos filhos, mesmo que esse tempo não seja integral vale mais do que qualquer cuidado externo (não família), há uma falsa ideia de que quantidade significa qualidade, uma hora bem aproveitada vale mais que um dia inteiro improdutivo. Precisamos desenvolver nas crianças uma inteligência emocional, e essa sim será capaz de levá-los à grandes caminhos.

     E no final os pais se perguntam porque seus filhos estão assim se tudo foi dado a eles. Coisas materiais não preenchem carência afetiva. Nessa modalidade familiar presentes entram no lugar de carinho, é mais fácil e rápido. Uma adolescente me disse que viajou com seus pais nas férias, perguntei o que fizeram, ela respondeu “meus pais, não sei, eu fiquei em uma colônia de férias”. Esse é um exemplo clássico da ausência, foi mais fácil colocar a jovem em uma colônia de férias do que usufruir o tempo em que estavam juntos para se divertirem, colocarem as novidades em dia, trocarem amor, carinho, beijos, abraços e saber se algo não vai bem.
Com isso há uma inversão de valores, jovens sem afeto que acham que o dinheiro pode tudo e que as questões financeiras são sempre as mais importantes. Acabam entrando num ciclo com seus pais onde cada conflito é resolvido com um presente.

    Gostaria de ressaltar que na maioria das famílias existe amor, porém os pais copiam a educação que lhes foi dada, sem saber expressar seus sentimentos. Neste caso o tratamento psicológico fica mais fácil, pois os pais conseguem perceber onde está o problema, tornando a terapia um espaço para bons resultados.

    Para finalizar a postagem e gerar reflexão gostaria de relatar o discurso de uma adolescente de 12 anos:


“Eu briguei com meu pai, estou bastante irritada com ele. Agora ele vai se ferrar na minha mão, vou tirar até o último centavo dele. Ele ia me dar o Iphone 4, agora eu disse que quero o 5, também vou ganhar um computador e vou comprar o melhor material escolar. Ele me pediu desculpas e disse que tudo bem.”.