Nesta
postagem, falarei de um sentimento que tem afetado boa parcela das nossas
crianças, comprometendo seu desenvolvimento psicológico e influenciando negativamente o seu processo de socialização.
O MEDO
Na primeira infância alguns medos são comuns, estão todos ligados ao imaginário da criança, a medida que ela vai amadurecendo eles vão sumindo (medo do escuro, barulho muito alto, trovão, bruxa, pessoas estranhas etc.).
Porém, alguns pais e parentes, acabam usando do próprio medo da criança para convencê-la de algo, esta situação em alguns momentos parece ser a única solução para os desmandos dos pequenos, contudo, devo alertar, que os pais são figuras de referência, e que se dizem que é para temer, isto pode se tornar verdade absoluta, e a criança poderá ficar com mais medo.
O sentimento de medo pode causar alguns sintomas físicos, uma vez que a criança é incapaz de elaborar a sobrecarga de emoções e extravasa para o corpo em forma de indisposições (febres, vômitos,
prisão de ventre, diarreia, crises alérgicas, dores de cabeça, suores, tremores, calafrios, aumento do batimento cardíaco etc.).
Também se manifestam através de outras emoções e ações
comportamentais, como timidez, agitação, "agressividade",
irritabilidade, tristeza, sonolência, falta de concentração, problemas para
dormir, preocupação excessiva e baixo rendimento escolar.
O medo pode
estar relacionado a alguma situação específica ou ser generalizado. Quando digo generalizado, não significa que a criança tem
medo de tudo, mas que muitas coisas a assustam.
Como em
qualquer sentimento, existe um nível de complexidade, que para entendermos a
sua origem, é preciso avaliar tudo que cerca a criança, desde o seu nascimento
até o momento atual (como foi a gravidez, parto, primeiros meses de vida, seu
desenvolvimento no contexto familiar, escolar, experiências vividas,
relacionamento dos pais e características específicas da família).
Observo na clínica que a
maioria dos medos estão relacionados as seguintes situações:
- Quando a mãe e/ou o pai sentem medo, e expressam esse sentimento de forma exacerbada, existe grande chance da criança absorver parte desse medo.
Ela pode
desenvolver o mesmo medo dos pais, ou transferi-lo para
outra situação;
- Crianças que vivenciam situações traumáticas, acabam desenvolvendo temor com relação a situação em questão;
- Após muito estudo, acreditamos também, que alguns medos são oriundos de uma gravidez conturbada, onde o clima predominante é de briga, doenças, preocupações e ansiedade. Esse clima acaba envolvendo toda a família, criando um ambiente inseguro e hostil para o bebê que acaba de nascer;
- Pais que exageram no excesso de zelo e traçam uma criação bastante limitadora, tiram da criança a oportunidade da experimentação, criando um sentimento de ansiedade e insegurança diante de situações novas;
- Observamos
também que em alguns casos, não existe nenhum motivo aparente, mesmo
após toda análise do histórico de vida da criança, não encontramos nenhuma
pista de sua origem, neste caso o tratamento fica voltado para o problema
presente, diminuindo a ansiedade em torno dele.
Quando não tratado, o medo afeta a vida dos pequenos, o que pode acontecer?
- Alterações psicológicas, cognitivas, motoras, sensoriais, comportamentais(às vezes estes eventos ocorrem momentaneamente, só na hora da exposição ao medo);
- Problemas no processo de escolarização, criando dificuldades de aprendizagem;
- Dificuldades nos relacionamentos familiares e escolares;
- Dificuldade para enfrentar situações novas;
- Evolução para quadros de pânico e/ou fobia, nos casos mais severos sendo necessário o uso de medicamentos.
O tratamento psicológico será traçado de acordo com a intensidade do medo, sua origem e consequências.
"Lulu era uma menina que tinha medo de borboleta, pouco brincava em lugares abertos e sempre que isso acontecia, não gostava muito de chegar perto de insetos, mas quando via uma borboleta o medo era enorme. Suava frio e ficava imóvel".