Irmãos gêmeos

Nesta postagem vou abordar uma estrutura familiar particular, mas, que precisa de atenção especial.
Em regra geral, quando a família está atenta aos sinais e os educadores também, conseguimos atender as necessidades individuais de cada filho/aluno.
Este texto será dedicado aos irmãos gêmeos e as dinâmicas familiares que não conseguem perceber, que embora seus filhos tenham nascido juntos e compartilhado do mesmo ventre, cada um desenvolverá seu próprio jeitinho de ser e precisam ter sua individualidade respeitada.
Sempre que avalio alguma dinâmica familiar ou escolar, procuro levar em consideração, o contexto social da criança. Precisamos ter em mente que uma criança/aluno cresce e se desenvolve em um determinado ambiente, em uma família específica, que vive em uma determinada cidade, que se relaciona com os amigos e com os demais, e que tem sua própria condição econômica, portanto, não podemos ficar alheios as circunstâncias, o que quero dizer com isso, é que não podemos simplesmente prognosticar a conduta comportamental de uma família, sem antes avaliarmos seu contexto social. Lógico que assumimos compromissos inegociáveis quando colocamos um filho no mundo, mas, podemos tornar a jornada da criação e educação das crianças, mais adaptável se levarmos em consideração tudo que a cerca.
A dificuldade começa quando a família unifica as vivências, ou seja, já que as crianças são parecidas, estão vivendo a mesma fase, na mesma família, na mesma casa e com a mesma educação, fica fácil se deixar levar pela homogeneidade, as crianças acabam fazendo as mesmas coisas e tudo que um tem o outro também tem. Em todas as minhas experiências com gêmeos, na clínica e na escola, pude notar que há uma ligação afetiva extra, o que acaba confundindo ainda mais as famílias na hora de diferenciá-los.
Quando tratamos os gêmeos como uma só criança, estamos impedindo a formação do seu EU, fazendo com que eles criem uma estrutura misturada, incapazes de desenvolverem seus próprios gostos e desejos. 
Na escola sempre estimulamos a individualidade de cada um, em muitos casos eles criam um sentimento de igualdade, no geral fortalecido pela semelhança física, acham que precisam fazer tudo junto, sentar no mesmo lugar, fazer o mesmo desenho, comer a mesma fruta, vestir a mesma roupa e até levar a mesma bronca. 
Temos casos de gêmeos que calçam os mesmos sapatos, dividem a mesma toalha, lancheira e mochila, às vezes a única diferença nos pertences está na cor, como se não existissem formas, tamanhos e desenhos diferentes. Quando isso acontece, chamo a família, primeiramente para entender o contexto social, antes de expressar meu parecer com relação a dinâmica familiar, num segundo momento, tentamos equilibrar as necessidades do dia a dia com o bem-estar das crianças.
Esta dinâmica entre os gêmeos bloqueia a construção da personalidade. É preciso deixar claro que cada um pode gostar de uma fruta, de um lugar, de uma cor, de uma atividade, sem anular a cumplicidade que existe entre eles.
Muitas escolas separam os gêmeos de turma, justamente para que eles possam pensar por si só, sem se espelhar no irmão.
Enquanto pequenos sucumbem aos desejos dos pais, só que não será sempre assim, a distância vai acontecendo naturalmente, e será que neste momento, estarão preparados para lidar com as diferenças e seguirem seus próprios passos sem ter o outro como referência?
Precisamos levar em consideração que cada um terá seu próprio desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, sendo assim, muitas vezes poderão se sentir frustrados com o avanço do irmão. A frustração também faz parte desta dinâmica, por isso precisamos treiná-la desde cedo, através da diferenciação. 
A própria família precisa se acostumar com o fato de que em algum momento as necessidades dos gêmeos serão diferentes, e que precisarão agir de acordo com cada uma.

Seguem abaixo, algumas dicas para o dia a dia dos gêmeos:

- Não usem roupas iguais, a semelhança física já é o suficiente para dificultar o processo de auto reconhecimento, imagine vestindo a mesma roupa;

- No quarto, cada um deve ter a sua cama, eventualmente dormir junto com o irmão é normal, mas eles precisam saber que cada um tem a sua;

- Com relação aos brinquedos não tem problema compartilharem dos mesmos, o que não é legal é comprar dois brinquedos iguais, um para cada;

- No dia a dia da comida, o prato não precisa ser idêntico, podem conter os mesmos alimentos, mas façam pratos organizados de formas diferentes;

- Na rotina escolar, diferenciem os materiais, cada um com uma mochila, lancheira, agenda, toalha etc. Os educadores estimulam a autonomia, então é importante que cada um tenha o seu, imagina a professora pedindo para Pedrinho buscar a mochila, o que sobra para o outro irmão?;

- Permitam a escolha de atividades diferenciadas, não é porque um faz natação que o outro tem que fazer, ele pode preferir outro esporte;

- O corte de cabelo pode ser diferente;

- Quando naturalmente os gostos e os interesses forem surgindo, valorizem as escolhas de cada um, ao invés de optar pelo mais prático.

Gostaria de lembrar que nada substitui as vivências entre irmãos, nela desempenhamos vários papéis que contribuem para a construção de nossos valores e do nosso EU. Mas uma coisa é aprender a compartilhar e outra é não ter a oportunidade de desenvolver suas habilidades e interesses.