Os impactos do uso excessivo das tecnologias digitais na vida das crianças

Vamos refletir, neste texto, a respeito dos impactos do uso excessivo das tecnologias digitais. Ao contrário das vivências que tínhamos há anos, cujas brincadeiras eram mais experimentais, físicas e criativas, hoje em dia, temos que lidar com a tecnologia digital que veio para ficar. Que evolução essa era tecnológica, quantos benefícios adquirimos por meio dela e quanta informação circula em uma velocidade jamais imaginada por nós, mas, se não a usarmos com moderação, disciplina, filtro e principalmente senso crítico, é impressionante o estrago que ela pode causar em nossas vidas. Quando digo nossas vidas, refiro-me obviamente a nós, adultos, mas principalmente às nossas crianças, que já nasceram nessa era tecnológica.

A tecnologia traz um gostinho de quero mais, uma vez que estamos vivendo num mundo onde nossas crianças já não podem mais brincar livremente. De que forma, então, vamos preencher esse tempo que supostamente seria reservado para as brincadeiras, já que essas crianças estão muito dentro de casa?  E mais do que isso, como mantê-las relativamente “calmas” para que os pais possam trabalhar?

Então, eis que surgem os lobos em pele de cordeiro: celulares, tablets, computadores, jogos de videogame e obviamente as redes sociais que os conectam. Crianças ocupadas e calmas? Não!!!! É uma ilusão acharmos que estamos mantendo as nossas crianças entretidas, ocupadas e se divertindo. Toda essa tecnologia, sem moderação, resolve uma situação momentânea, após isso, seus efeitos negativos são potencializados e cumulativos na vida dos pequenos. Podemos compará-los ao efeito rebote, que supostamente algo vai nos aliviar naquele momento, contudo, causará, a longo prazo, um prejuízo maior ainda, fazendo com que você dependa cada vez mais daquele efeito.

Onde estão as brincadeiras que nos fazem desenvolver nossas funções executivas e cognitivas, como memória, atenção, percepção, linguagem, autocontrole, flexibilidade, criatividade, desenvolvimento motor e principalmente que nos servem como ferramentas para alívio do estresse?

O uso indiscriminado das tecnologias digitais afeta a cognição das nossas crianças e adolescentes pelo fato das estimulações audiovisuais e emocionais estarem trabalhando na sua capacidade máxima. A grande quantidade de dados recebidos pelo cérebro, em forma de áudios, imagens, textos e vídeos, pode fazer com que a memória de trabalho fique no limite de sua atividade, fazendo com que haja uma sobrecarga cognitiva, não permitindo assim que o cérebro ative sua memória de longo prazo, e o resultado disso é que a informação não gerará conhecimento. Não podemos considerar esta obtenção de dados como aprendizagem. As crianças e os adolescentes não estão adquirindo a compreensão necessária, e a informação não está sendo processada nem associada a outras para gerar um entendimento mais profundo.

Portanto, o uso indistinto das ferramentas digitais provoca o desequilíbrio cognitivo do ser, potencializando os transtornos de atenção, transtornos obsessivos, transtornos de ansiedade e depressão, problemas com linguagem e comunicação. Além de aumentar as chances de desenvolverem comportamentos antissociais, tendências agressivas e distúrbios de autoimagem, pois, quando se desconectam deste mundo virtual, a realidade se torna distorcida, como se as pessoas ao seu redor não fizessem parte do seu cotidiano, devido à falsa impressão de felicidade proporcionada pelas interações no mundo virtual.

A melhor maneira dessas crianças, futuros adolescentes, se desenvolverem de forma plena é vivenciando momentos prazerosos com suas famílias, onde eles possam se sentir acolhidos e escutados. Quando um adolescente percebe que a família não o escuta (ouvir é diferente de escutar), ele recorre a outras fontes. Supervisionem o uso das ferramentas digitais, nós somos os adultos da relação, nossas crianças e nossos adolescentes precisam desses comandos.