Embora o termo “depressão infantil” seja complexo e muitas vezes desafiador de ser abordado no contexto da primeira infância, ele não pode ser negligenciado. Em meu trabalho com crianças pequenas, recebo frequentemente a pergunta sobre o que pode levar uma criança a desenvolver esse quadro. Mesmo após anos de estudo e prática, é difícil conceber que, por trás de uma criança aparentemente animada, com comportamento ativo e um sorriso radiante, possa existir um estado emocional tão profundo e negativo, capaz de fazê-la perder momentaneamente o brilho nos olhos.
O objetivo desta reflexão é, com base no conhecimento compartilhado, identificar, compreender e tratar esse quadro o mais rapidamente possível, garantindo uma infância mais plena e saudável para as crianças.
A depressão infantil pode ser entendida como uma tristeza constante e prolongada, que envolve um estado de espírito persistentemente deprimido. Os sintomas mais comuns desse quadro incluem tristeza frequente, falta de motivação, dificuldade em se divertir, solidão, episódios de choro constante, pensamentos negativos relacionados à perda de entes queridos, e um desânimo tão profundo que leva a criança a conceber cenários mórbidos a seu próprio respeito. É importante notar que, à medida que a criança cresce, ela se torna mais capaz de elaborar e expressar pensamentos sobre a morte, enquanto as crianças menores ainda não têm uma compreensão clara desse conceito, sendo o conceito de morte uma questão em desenvolvimento em suas vidas.
Além desses sintomas, queixas físicas como cansaço, falta de energia, dores de cabeça e dores abdominais também são frequentes. A sobrecarga emocional pode manifestar-se fisicamente, uma vez que o corpo reflete o impacto de um estado mental sobrecarregado.
Outros sinais de alerta incluem uma queda no desempenho escolar, visto que a depressão afeta diretamente a cognição da criança, prejudicando sua atenção, memória e capacidade de realizar tarefas cotidianas. A perda de interesse em atividades, brincadeiras e na rotina também é um fator indicativo de apatia, que pode impactar diretamente o envolvimento da criança com os estudos.
Vale ressaltar que existem diversas situações na vida infantil que podem causar tristeza temporária, e isso não caracteriza necessariamente um quadro de depressão. É importante observar a duração da tristeza e o impacto que o evento causador está gerando na criança. Quando a tristeza é um evento pontual, podemos intervir com mais clareza, buscando reduzir os efeitos negativos sobre a criança. No entanto, se essa tristeza persistir por um período prolongado e de forma exacerbada, é fundamental procurar o auxílio de um psicólogo para avaliação e intervenção adequada. A psicoterapia, nesse caso, abordará diferentes aspectos da vida da criança, sendo essencial a parceria entre a família e a escola para um prognóstico favorável.
A depressão infantil pode ter múltiplas causas, que envolvem fatores biológicos, genéticos, familiares e sociais. Crianças com histórico familiar de transtornos depressivos tendem a ter maior predisposição a desenvolver o quadro, o que aponta para uma forte influência genética. Alterações nos neurotransmissores cerebrais também podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, com desequilíbrios químicos afetando o estado emocional da criança.
Além desses fatores biológicos, vivências familiares desempenham um papel significativo. Ambientes familiares hostis, com agressividade ou ausência de afeto, aumentam os riscos de uma criança desenvolver quadros de depressão. A exposição diária a brigas, tensões familiares e falta de apoio emocional adequado pode ser altamente estressante, impactando o bem-estar psicológico e emocional da criança.
A depressão infantil não surge de forma abrupta, mas sim de maneira gradual, muitas vezes como resultado de experiências mal resolvidas que causam tristeza repetida. Com o tempo, esse sentimento se enraíza na vida da criança, tornando-se parte do seu universo emocional de forma inconsciente. Esse processo pode fazer com que a criança se sinta incapaz de se distanciar de um estado emocional negativo, levando a uma perpetuação do sofrimento.
O tratamento adequado da depressão infantil exige uma abordagem multidisciplinar, com o objetivo de desconstruir os padrões de tristeza e promover uma infância mais saudável e equilibrada. Esse tratamento envolve a avaliação de todos os fatores que desencadeiam o quadro depressivo, proporcionando uma intervenção que permita à criança reconquistar sua alegria e vitalidade.
Em suma, a detecção precoce e o tratamento adequado da depressão infantil são essenciais para o bem-estar das crianças. A colaboração entre profissionais de saúde, educadores e familiares é crucial para a promoção de um ambiente de apoio emocional, essencial para o desenvolvimento de uma infância plena e saudável.