A infância é uma fase de descobertas, brincadeiras e aprendizados, mas também pode ser marcada por sentimentos difíceis — entre eles, a ansiedade. Ao contrário do que muitos imaginam, crianças também podem sofrer de ansiedade, embora nem sempre saibam expressar o que estão sentindo. E justamente por isso, cabe aos adultos estarem atentos aos sinais que o corpo e o comportamento revelam.
É natural que a criança sinta algum nível de ansiedade em certas situações — como no primeiro dia de aula, em uma mudança de casa ou diante de uma prova. O problema é quando esse sentimento aparece com frequência, intensidade e começa a interferir na rotina da criança, afetando seu sono, apetite, rendimento escolar e até suas relações sociais.
O que é ansiedade infantil?
A ansiedade é uma resposta do organismo diante de algo que é percebido como uma ameaça ou desafio. No cérebro, essa reação é regulada por estruturas como a amígdala e o hipotálamo, que ativam sensações físicas e emocionais ligadas ao medo, alerta ou preocupação. Na criança, o cérebro ainda está em desenvolvimento, especialmente nas áreas responsáveis por regular essas emoções — por isso, é comum que ela tenha dificuldade para lidar com situações que envolvem expectativa ou insegurança.
A ansiedade infantil pode se manifestar de várias formas, e nem sempre se parece com a ansiedade típica dos adultos. Por isso, é importante observar mudanças no comportamento, mesmo que sutis.
Sinais comuns de ansiedade em crianças:
Queixas físicas frequentes
Dores de barriga, dor de cabeça, enjoo e sensação de falta de ar podem ser sintomas de ansiedade, principalmente quando os exames não apontam causas médicas.
Alterações no sono
Dificuldade para dormir, pesadelos recorrentes ou acordar várias vezes durante a noite podem estar ligados a preocupações internas.
Apego excessivo aos pais ou cuidadores
Crianças ansiosas tendem a ter medo de se separar dos adultos de referência. Choro excessivo ao ir para a escola, por exemplo, pode ser um sinal de ansiedade de separação.
Medos exagerados ou persistentes
Medo do escuro, de ficar sozinho, de errar ou de que algo ruim aconteça com alguém da família pode ser natural até certo ponto — mas, se for muito intenso ou persistente, merece atenção.
Comportamentos de evitação
A criança evita atividades ou situações que antes fazia com tranquilidade, como participar de festas, sair de casa ou interagir com colegas.
Irritabilidade ou explosões emocionais
A ansiedade nem sempre aparece como medo — às vezes, ela se expressa por meio de irritação, choro fácil ou crises de raiva sem motivo aparente.
Dificuldade de concentração e queda no rendimento escolar
A mente ansiosa está sempre “em alerta”, o que pode dificultar o foco e afetar o desempenho nas atividades.
O que pais e professores podem fazer?
Estabelecer uma rotina previsível
Crianças se sentem mais seguras quando sabem o que esperar. Horários estáveis para comer, dormir e estudar ajudam a reduzir a ansiedade.
Falar sobre sentimentos
Encorajar a criança a nomear o que sente e dizer quando está com medo ou preocupada é fundamental. Livros, jogos e conversas leves podem ajudar nesse processo.
Não minimizar nem exagerar
Frases como “isso é bobagem” ou “você está exagerando” não ajudam. Ao mesmo tempo, não é necessário superproteger. O ideal é reconhecer o sentimento e apoiar a criança a enfrentá-lo com segurança.
Ensinar estratégias de autorregulação
Técnicas simples, como respiração profunda, pausas para relaxar ou movimentos físicos (como pular ou correr) ajudam a descarregar a tensão do corpo.
Procurar ajuda profissional, se necessário
Se os sinais forem intensos, frequentes e estiverem prejudicando a vida da criança, o ideal é buscar orientação de um psicólogo infantil ou outro profissional especializado.
Conclusão
A ansiedade na infância é real e pode se manifestar de formas variadas — nem sempre óbvias. Por isso, o olhar atento de pais e professores é essencial para identificar os sinais precocemente e oferecer o suporte necessário.
Mais do que “resolver” o problema, o papel do adulto é ajudar a criança a entender o que sente, acolher suas inseguranças e ensinar, com paciência, formas mais saudáveis de lidar com o que a assusta. Isso constrói segurança emocional e fortalece a saúde mental desde cedo.