Lidar com frustrações faz parte da vida — mas nem sempre é fácil, nem para os adultos. Agora imagine para uma criança pequena, que ainda está aprendendo a entender o que sente, que não tem vocabulário emocional formado e cujo cérebro está em desenvolvimento. Diante de algo que não sai como ela esperava, a reação costuma ser intensa: choro, raiva, gritos ou até agressividade. E isso é completamente normal.
A frustração surge quando um desejo ou expectativa não é atendido — como quando o brinquedo quebra, o coleguinha não quer brincar ou o adulto diz “não”. Para o cérebro imaturo da criança, essas pequenas situações podem parecer o fim do mundo. Mas é justamente no enfrentamento dessas situações que ela aprende, aos poucos, a lidar com a realidade.
O que acontece no cérebro da criança?
A área do cérebro responsável por controlar impulsos, tomar decisões e regular emoções — o córtex pré-frontal — só começa a amadurecer a partir dos 4 ou 5 anos, e seu desenvolvimento se estende até o fim da adolescência. Já a região emocional, ligada à reatividade (como a amígdala cerebral), funciona a todo vapor desde cedo. Por isso, crianças pequenas sentem tudo com muita intensidade, mas têm pouco repertório para administrar essas emoções.
Ou seja, quando a criança se frustra, ela não está “fazendo drama” ou “te testando” — ela está vivendo um sentimento real e muitas vezes esmagador. Ela precisa do adulto como referência para entender o que está acontecendo e aprender a reagir de forma mais equilibrada.
Então como o adulto pode ajudar?
Ajudar uma criança a lidar com frustrações não é protegê-la de todas as dificuldades, mas sim estar presente quando elas surgem, ajudando a transformar esses momentos em aprendizado emocional. Aqui vão algumas estratégias eficazes:
Nomeie os sentimentos
Quando a criança se frustra, ela está tomada pela emoção. O adulto pode ajudar dizendo, por exemplo: “Você está bravo porque queria mais tempo com o brinquedo, né?” Isso ajuda a criança a identificar e entender o que está sentindo.
Valide, sem ceder a tudo
Validar não é o mesmo que permitir tudo. É possível dizer “não” e, ao mesmo tempo, reconhecer o sentimento: “Eu sei que é chato parar de brincar agora, mas está na hora do banho.” Isso ensina que frustrações existem e que podem ser enfrentadas com apoio.
Ofereça escolhas simples
Dar opções controladas ajuda a criança a sentir que tem alguma autonomia. Por exemplo: “Você quer escovar os dentes agora ou depois de colocar o pijama?” Assim, ela aprende a tomar decisões mesmo em momentos difíceis.
Seja o exemplo
As crianças aprendem muito mais pelo que observam do que pelo que ouvem. Se o adulto lida com seus próprios desafios com equilíbrio, mostra na prática como reagir diante das frustrações da vida.
Ensine que errar faz parte
Quando a criança se frustra por não conseguir fazer algo (como montar um quebra-cabeça ou perder um jogo), o adulto pode mostrar que errar ou falhar é parte do processo de aprender. Incentivar o esforço, e não só o resultado, é essencial.
Respeite o tempo da criança
Algumas vão precisar de mais acolhimento, outras vão preferir ficar quietas por um tempo. Não há uma fórmula única. O importante é estar disponível e manter o vínculo afetivo.
Evite minimizar ou ignorar a frustração
Frases como “não foi nada”, “deixa de besteira” ou “para de chorar” podem parecer inofensivas, mas na verdade ensinam à criança que seus sentimentos não são importantes. O resultado pode ser o oposto do esperado: ela cresce sem saber lidar com emoções difíceis ou com medo de expressá-las.
A frustração é desconfortável, mas essencial para o amadurecimento. Quando acompanhada por um adulto que acolhe e orienta, ela deixa de ser um obstáculo e se torna uma oportunidade de crescimento.
Em resumo:
- Crianças pequenas ainda não sabem lidar com frustrações sozinhas.
- O cérebro infantil é imaturo para regular emoções — por isso a reação costuma ser intensa.
- O adulto tem o papel de guiar, nomear sentimentos, validar emoções e ensinar alternativas.
- Frustração não deve ser evitada a todo custo — deve ser vivida com apoio e presença.