A criança agressiva não é má, ela está em sofrimento

Bater, morder, empurrar, gritar, quebrar coisas, responder com raiva. Esses comportamentos, quando aparecem com frequência em crianças, costumam causar preocupação, vergonha e até julgamento. Mas antes de rotular a criança como “malcriada”, “difícil” ou, pior ainda, “má”, é fundamental dar um passo atrás e fazer uma pergunta mais sensível: o que essa criança está tentando comunicar com esse comportamento?

A verdade é que nenhuma criança nasce agressiva. A agressividade, na infância, quase sempre é um sinal de sofrimento emocional mal compreendido. E, na maioria das vezes, trata-se de uma tentativa — ainda que desajeitada — de expressar algo que ela não consegue colocar em palavras.

Compreendendo a agressividade na infância

Do ponto de vista do desenvolvimento, a criança ainda está aprendendo a lidar com emoções como raiva, frustração, medo, ciúme e insegurança. Isso significa que:

  • Ela sente tudo de forma intensa, mas ainda não sabe nomear o que sente;
  • Ela não tem total controle sobre seus impulsos, pois seu cérebro ainda está em construção (especialmente a parte responsável pela autorregulação emocional);
  • Ela depende do adulto para ajudá-la a entender e lidar com essas emoções.
A agressividade, nesse contexto, não é sinal de maldade, mas sim uma forma de comunicar: “tem algo em mim que está difícil de lidar”.

O que pode estar por trás de um comportamento agressivo?

Existem muitos fatores que podem levar uma criança a agir com agressividade. Alguns dos mais comuns incluem:

  • Frustrações não elaboradas (não conseguir o que quer, não se sentir ouvido);
  • Dificuldade em lidar com emoções intensas;
  • Falta de habilidades sociais para resolver conflitos;
  • Ambientes familiares tensos, com gritos, punições ou falta de afeto;
  • Mudanças ou perdas recentes (como separação dos pais, chegada de um irmão, troca de escola);
  • Exposição a conteúdos violentos (na TV, jogos ou até no convívio diário);
  • Falta de limites claros e consistentes;
  • Experiências de negligência ou traumas emocionais. 

Em muitos casos, a agressividade é um grito silencioso de uma criança que se sente sobrecarregada, insegura, desprotegida ou não compreendida.

O papel do adulto: acolher, sem reforçar o comportamento

Diante de uma criança agressiva, o papel do adulto não é ignorar nem punir de forma rígida — mas sim agir com firmeza e empatia. Isso significa:
  • Estabelecer limites claros: "Eu entendo que você está com raiva, mas não posso deixar você bater. Vamos encontrar outra forma de lidar com isso."
  • Ajudar a nomear o que está sentindo: "Você está frustrado porque queria brincar mais tempo, né? Eu entendo."
  • Oferecer alternativas de expressão: Ensinar que é possível desenhar, respirar fundo, pedir ajuda ou até se afastar um pouco para se acalmar, em vez de reagir com agressividade.
  • Observar o contexto: Repetição de comportamentos agressivos pode ser sinal de que a criança precisa de mais acolhimento, rotina mais previsível ou até de apoio psicológico especializado.

A importância de olhar além do comportamento

Quando olhamos apenas para a ponta do iceberg — o comportamento visível —, corremos o risco de reagir com bronca, castigo ou rótulos. Mas por trás de toda conduta agressiva existe uma história, uma emoção e uma necessidade não atendida.

A criança agressiva não quer machucar — ela quer ser compreendida. E quanto mais ela for recebida com escuta, afeto e limites consistentes, maior será sua chance de aprender outras formas de se comunicar e lidar com o que sente.

Conclusão

A criança que age com agressividade está dizendo, do jeito que consegue: “algo em mim não está bem”. Cabe ao adulto, com sensibilidade e responsabilidade, enxergar o que vai além do comportamento e oferecer os recursos necessários para que essa criança possa crescer emocionalmente.

Educar não é apenas corrigir o que se vê — é acolher o que ainda está em construção.

E quando escolhemos olhar para a agressividade com empatia, estamos dizendo à criança: “Você pode não saber como lidar com isso agora, mas eu estou aqui para te ajudar a aprender.” Esse é o primeiro passo para transformar dor em desenvolvimento, e sofrimento em vínculo.